sexta-feira, 30 de abril de 2010

Por que um corvo se parece com uma escrivaninha?




Tim Burton é um artista que criou seu mundo próprio, façanha cada vez mais rara hoje, principalmente num mundo onde parece que tudo já foi visto. Excelente diretor de arte, recria ambientes e personagens que só podíamos imaginar. É atento aos detalhes, onde acaba por assinar suas obras.


Alice in Wonderland (Underland?) estreou calçado numa grande campanha visual pelas já conhecidas imagens e capacidade de Depp (dando vida ao esquisito e original Chapeleiro Maluco) e Helena Bonham Carter (com a malvada Rainha Vermelha), talvez por isto as críticas ao filme tenham sido tão duras. Proponho uma revisão: o filme tem seus pontos baixos, podemos admitir. O que não deve ser entendido como fracasso, cada um tem seus méritos. Convido vocês a debaterem comigo as "falhas" do filme:

"Tim Burton nunca foi muito bom em narrar histórias" por Demetrius Caesar (clique nos nomes para ler a crítica): Essa eu não concordo de maneira alguma, seus roteiros são ainda os mais originais, ele consegue ultrapassar o commom sense facilmente e deve ser muito criticado no meio justamente por isto. Para mim, ele é o melhor "contador/diretor" de histórias do cinema americano.

"As cenas de ação não funcionam e o final, com Alice tendo de matar um monstro gigantesco, Jabberwocky, simplesmente não convence" pelo mesmo crítico: Realmente, a cena na luta de Alice contra Jaguadarte (tradução brasileira para Jabberwocky) não é o ponto mais alto do filme e talvez este momento tenha sido abreviado na gravação justamente porque não é o mote do filme. Gostei da ideia de ela mesma ser o Cavalheiro Real com a incubência de matar o tal monstro. Muito chato aqueles filmes que quem luta contra o vilão final da história parece ter tanta força quanto ele.

"...garota (feita por uma atriz com cara de enjoada, sem maior carisma, o primeiro grande erro) po Rubens Ewald Filho: a atriz é Mia Wasikowska, australiana de 21 anos, com pouco tempo e reconhecimento na carreira. Insisto: o ar ingênuo e o perfil por vezes passivo não poderia escapar aos olhos de Burton como se fosse um erro primário. É claro que a intenção era trazer a tona o mix entre Alice criança e a Alice que cresceu, mas ainda acredita ser real seus próprios pesadelos. Esta Alice patina na estrada que liga a infância a idade adulta; mostra uma educada rebeldia negando a vestir-se adequadamente para o baile no início do filme e obtém a atenção que merece no filme. Embora leve seu nome no título, Alice não é a persona principal do filme. O destaque é maior para a versão de Burton sobre o clássico.

"Nem o filme tem grandes momentos que justifiquem a terceira dimensão" por Rubens Ewald Filho: Não concordo justamente porque não penso que o cinema 3D seja somente para aqueles filmes de ação e explosões como Transformers. O cinema 3D inaugura uma nova tecnologia que permite participarmos da história. E quem não gostaria de estar num filme de Burton. Torço para que em pouco tempo, todos as películas sejam em 3D.

O que falta aos críticos é liberdade para pensar como um personagem de Burton e humildade para aceitar inteira a obra do artista. Que maravilhas tem o país de Alice?

1. Personagens estranhos e animais humanizados: O ponto forte de Tim Burton é colocar em ênfase seus personagens. Escolher o 3D é expor estas atuações ao máximo. Tanto para os personagens que foram interpretados por pessoas como a Rainha Branca, a Rainha Vermelha, o Chapeleiro Maluco e a própria Alice; quanto os personagens não-humanos: o apressado Coelho branco, o fantástico exército de copas da rainha, o próprio Jaguadarte, a muito louca lagarta azul e o enigmático gato risonho.

2. O figurino dos personagens: as peças clássicas foram modificadas, introjetanto um quê do espírito de Burton em cada uma delas. O figurino mais excêntrico certamente é o do Chapeleiro Maluco, em segundo lugar, eu votaria na Rainha de Copas, ou Vermelha. Até Alice ganha um figurino modificado cada vez que cresce ou diminui. Aí valem cortinas ou pequenos adornos de chapéu.

3. Transcendentalismo: A possibilidade de ser uma Alice ordinária no mundo que conhecemos ou ser apontada como a salvação do Mundo Subterrâneo. Com o desenrrolar do filme, vamos vendo uma Alice mais madura em relação às dificuldades que se apresentam e principalmente, consigo mesma. Este "encontro com si mesma" faz dela mais segura para dizer não ao casamento que lhe é proposto antes de aceitar o convite do Coelho Branco. A "frabulosa" possibilidade de circular entre os dois mundos e conviver com elementos tão excêntricos de cada uma deles, faria qualquer pessoa transcender-se.

4. Neologismos: Deve-se a Carroll a criação de novas palavras no País Maravilhoso de Alice. Ele era apaixonado pela aglutinação de termos que trouxessem dois significados. Burton contribuiu mantendo a problemática da interpretação linguística dos termos.

Para mim, a versão de Burton não escapa ao que esperei quando a gravação do filme foi anunciada. É a sua ótica da história, acredito que ele não desejou receber o título de melhor versão do filme. Afinal de contas, por que um corvo se pareceria com uma escrivaninha?

Um comentário:

  1. .

    Olha bem pro cartaz que tem só a cara sorridente do Depp de chapeleiro. Ta parecendo a Madonna disfarçada ;D
    Nem assisti ainda o filme, mas achei a Mia super gatrinha, oq ja a deixa simpatica na minha concepção. Concordo que 3D nao precisa ter explosão.
    De resto, so vendo pra falar ;P

    .

    ah, TIRA ESSA PALAVRA DE CONFIRMAÇÃO pra comentaaar!!!!

    .

    ResponderExcluir