domingo, 18 de abril de 2010

"Toda criança cresce: menos uma": a meus tios e primos


Em pouco tempo, quando minha família mais próxima já estiver formada, suspeito que não terei mais as lembranças que tinha quando era criança. Este final de semana assisti a um vídeo de quase 20 anos atrás e percebi o quanto o ser humano pode mudar. Não mantemos mais o contato com a maioria das pessoas que estiveram conosco enquanto formávamos nosso caráter. Vi olhares mais apaixonados e relembrei de fatos e lugares que trazem uma saudade tão profunda que dói a alma. Ouvi atentamente músicas que fizeram parte da minha vida como fundo musical que não dava tanta importância no momento em que as vivi. Vi abraços apertados e atitudes que definem e classificam o que as pessoas um dia significaram para nós. Vi pessoas que não existem mais. E percebi que existem pessoas que não vejo mais. Nem num final de semana ordinário nem dentro das minhas paixões. Momento divã: chorei de saudade da minha infância.




É claro que tudo passa, nós enrijecemos a couraça e nosso coração fica indiferente. Disfarçamos que não nos importamos mais. E damos aquela velha desculpa de "um dia a gente marca!". Mentira, nunca é marcado nada e a gente sabe disso imediatamente depois que se despede. Parece que a única coisa que marca é o que ficou. E mesmo fazendo um esforço daqueles, não dá pra voltar a ter o mesmo sentimento. Ou dá? Dá pra sentir o mesmo cheiro do café (que eu não bebia) da minha tia? Dá pra fazer bagunça no apartamanento da minha avó? Dá pra dormir todo os primos juntos no mesmo quarto e combinar de dar susto naquele mais apavorado?
Meu olhar mudou, a vida parece mais real agora. Com seus problemas, ocupações e sonhos que detestaria pensar que um dia seriam meus. Hoje vejo a importância dos nãos que ouvi.



Mas, como Peter Pan, ainda acho que é chato ser adulto. O garoto que não quer crescer, não suportava ouvir um não e criou um mundo só meu, ops, dele: A Terra do Nunca. Como num livro de rosas prensadas, eu também tinha minhas fadas guardadas. Voar certamente seria mais interessante que ficar discutindo assuntos do jornal ou ouvindo Chico Buarque (castigo!). Foi duro descobrir que a vida tem suas responsabilidades e não é só diversão. Como Peter Pan, eu também tinha medo de crescer, de ser gente grande, de responsabilidades e compromissos, e medo de estar só. Esse personagem complexo está em cada criança e daria, de fato deu, um ótimo filme. Peter encontrou seus garotos perdidos e Wendy e, no segundo que pode, levou todos eles a sua Terra do Nunca. Quando criança, tentamos fazer isso com quem nos oferece maior confiança, nossos pais. Mas eles parecem estar ocupados demais em ouvir atentamente e encarar as fantasias de qualquer criança. Nessa época, é claro que não entendemos o que está por trás da história: a aversão de Peter ao amadurecimento e o início da sexualidade de Wendy. Só nos damos conta disso quando vivemos a nossa própria sexualidade, nada infantilizada. Conhecer uma fada muda significa o início da repressão que nos espera. Representa aquilo que não podemos falar. Mas, na vida real, nossas maiores preocupações são mesmo bem mais aterrorizantes que o Capitão Gancho. Não existe papel disponível nesse filme para os nossos pais. Quando é que Peter cresceu? Quando abandonamos a Terra do Nunca pra sempre? Nossas memórias mais bonitas parecem ter ficado presas dentro desse mundo onde tudo era possível.


4 comentários:

  1. Sinto saudades da minha infância também. Reconheço diversos sentimentos descritos por você. Sinto que nunca mais viverei aquela época gostosa: os cheiros, os sons, os medos, as alegrias... Hoje já não tem o mesmo sentido... Só aquela triste saudade de algo que foi se esvaindo sem ao menos eu perceber! Hoje busco, na medida do possível, segurar algumas raízes antigas. E de fato, algumas consigo, mas outras foram perdidas de maneira irremediável, e, não sei, se com relação a estas, tenho alguma culpa... (Momento reflexivo!)

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  2. .

    As vezes eu ainda vivo a minha infância :x
    que não foi perturbada por nenhuma fadinha, por que conheci fadinhas ainda na infância (longa historia e safadeza inata)...
    enfim... o que é crescer, não é mesmo minha gente?

    .

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  3. .

    Nem podia pegar o post que eu queria, pq é de um blog de um ex-rolo mó paia e tal e ba..
    te mostro depois.
    Teu blog ta tao legal ;D
    Mas, ja nao sei se iria num cinema contigo - mastigadora! ai ai...
    .

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  4. E quem de nós nunca desejou ser um eterno Peter Pan? Esse texto me lembrou de muitas coisas e me trouxe nesse final de tarde uma melancolia, uma vontade de deitar e voar num imenso tapete verde.
    Obrigada por hoje me relembrar coisas há muito esquecidas

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